quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Final de outubro

Enquanto fumava um cigarro, durante um curto intervalo no trabalho, parei no meio da rua e olhei para as montanhas. A chuva vinha em minha direção, era bonito. Eu a pude ver se aproximando, molhando o asfalto com suas gotas grossas e seu barulho confortante. O cheiro de terra molhada me lembra de quando éramos crianças. A rua de terra em que cresci, quando chovia, tornava-se um grande lamaçal no qual poucos se atreviam a caminhar. Para nós, os pequenos demônios, criados descalços e acostumados com o tipo de diversão que era comum às crianças pobres dos anos noventa, esse lamaçal era a garantia de histeria infantil e boas correiadas aplicadas por nossas mães, angustiadas e aterrorizadas com a imundície de nossas roupas. 

-
"Y los sueños, sueños son" -
 

A chuva me molha, apaga meu cigarro.
A infância volta a ser um lampejo cada vez mais distante, mais doloroso, mais nostálgico.
Com as roupas molhadas e com saudades da rua de terra em que cresci, retorno ao trabalho.