Enquanto fumava um cigarro, durante um curto
intervalo no trabalho, parei no meio da rua e olhei para as montanhas. A chuva
vinha em minha direção, era bonito. Eu a pude ver se aproximando, molhando o
asfalto com suas gotas grossas e seu barulho confortante. O cheiro de terra
molhada me lembra de quando éramos crianças. A rua de terra em que cresci,
quando chovia, tornava-se um grande lamaçal no qual poucos se atreviam a
caminhar. Para nós, os pequenos demônios, criados descalços e acostumados com o
tipo de diversão que era comum às crianças pobres dos anos noventa, esse
lamaçal era a garantia de histeria infantil e boas correiadas aplicadas por
nossas mães, angustiadas e aterrorizadas com a imundície de nossas roupas.
- "Y los sueños, sueños
son"
-
A chuva me molha, apaga meu cigarro.
A infância volta a ser um lampejo cada vez mais distante, mais doloroso, mais
nostálgico.
Com as roupas molhadas e com saudades da rua de terra em que cresci, retorno ao
trabalho.
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